domingo, 1 de março de 2009

A Indignação e a Indiferença

Num sábado qualquer, eu e minha namorada pegamos um trem do subúrbio da Central do Brasil. Rio de Janeiro. Eu, carioca da capital e morador da Zona Oeste. Ela, criada na região serrana, lugar onde as pessoas ainda se cumprimentam na rua mesmo sem se conhecer. Lugar bucólico, lugar diferente. Voltando ao trem. Durante o trajeto entraram vários ambulantes vendendo desde balas até brinquedos inusitados, mães com seus quatro ou cinco filhos, uma mãe com seu filho de uns dez anos de idade, voltando da escolinha de futebol com um sorriso estampado no rosto, algumas figuras bizarras e pedintes. No meio da viagem entraram dois meninos de cerca de onze anos de idade cada. Iniciaram sob os olhos curiosos e admirados de todos, inclusive do menino jogador de futebol, um número de equilibrismo com bolinhas, um no ombro do outro, em pleno trem em movimento a troco de qualquer trocado. Um show e tanto se não fosse por pura falta de opção, pura necessidade. Eu, agindo naturalmente, sorri levemente, abri a carteira e dei algumas moedas aos meninos, como se fosse uma coisa normal só por ser comum nos subúrbios cariocas. Foi quando olhei pra minha namorada e vi as lágrimas escorrendo de seus olhos. Tão triste e tão indignada com aquela cena e não entendendo a minha naturalidade diante aquele quadro pintado com as tintas da desigualdade social. Tentei ampará-la, na hora ela pediu que eu escrevesse e postasse sobre esse tema, e pediu que eu traçasse um paralelo entre aquele menino com roupa de jogar futebol acompanhado da mãe e os meninos equilibristas. Todos compartilham a mesma realidade pobre, a única diferença é que enquanto um tem o apoio da mãe para viver com um pouco de dignidade os outros vivem se equilibrando sem o apoio dos pais na corda bamba social. Cá estou eu a atendê-la. E rezando para que o próximo prefeito consiga reverter esse quadro de desigualdade. E que Deus nos ajude, ainda mais que vivemos na cidade da "aprovação automática" onde se elege vereador em prisão temporária.

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